1. O dia
Último dia de aula, não estava nem um pouco animada para levantar e ir para a escola, apesar de gostar um pouco de estudar. Já que é a única coisa que faço no dia, então, desci e minha mãe e meu pai estavam na mesa tomando café discutindo sobre a empresa deles.
-Mas eu já te disse, nós devemos ir cobrar as contas que os fregueses não pagaram ainda.
-Eu sei, mas quem vai fazer isso?-meu pai sempre era frio quando minha mãe começava a falar sobre esse assunto- Ah filha você está aí ?
-É acabei de chegar. Mas hoje eu to atrasada não vai dar pra tomar café com vocês hoje.
-Tudo bem filha, pode ir. – a gente já tava saindo mesmo, hoje à empresa vai abrir mais cedo. Minha mãe sempre se mostrava brava quando eu não tomava café com ela, mas eu não me preocupava mais com isso, era sempre assim, quase todos os dias que eu acordava atrasada.
-Tá. Então já estou indo. Pai pode pegar o Gol hoje? É que , lembra você deixou no último dia eu pegar ele.
-Tudo bem. Pode pegar sim. Então vai se não você vai chegar atrasada.
Sai de casa como um fuso, estava mais atrasada que antes. Cheguei na escola e quase todos os alunos já tinham entrado, menos é claro os meus amigos me esperando. Quando tinha acabado de estacionar o carro, ouvi alguém me chamando.
- Duda, Duda, Duda! Menina, você esqueceu o horário da aula ?
Claro só podia ser a Cris me chamando. Ela nunca ia pra aula sem eu, sempre ficava me esperando para ir para a aula, quando eu chegava atrasada sempre com a mesma fala.
-Ai, Cris hoje acordei indisposta. - disse com a menor vontade de conversar.
- Você? Indisposta? Isso nunca ocorreu, o que aconteceu?- o olho dela brilhava de fúria, sem saber o que tinha ocorrido- Pode me dizer agora o que você fez.
-Calma Cris. Eu não fiz nada, é que acordei pensando que eu não teria mais nada para fazer nessas férias, porque tudo o que eu faço nos dias normais é vir para escola, agora com as férias não vou ter mais nada para fazer, a não ser ficar em casa assistindo TV ou mexendo naquele lerdo do meu computador.
-Tá, deixa de ficar se lamentando ai, e vamos para a aula, antes que o Sr. Paulo desconfie que a gente chegou atrasada novamente na aula dele.
Eu entendia perfeitamente porque a Cris estava falando daquele jeito, nesse semestre já era 5ª vez que nós duas chegávamos atrasada na aula dele.
Chegando lá, nossos lugares estavam vazios, como sempre, e o Sr. Paulo não tinha chegado ainda, para a nossa sorte. Só que quando acabei de sentar, alguém me cutucou e eu olhei para trás.
-Duda, você fez a lição da aula de física? – Marcos me perguntou com um sentimento de desprezo.
Também depois do fora que eu tinha dado nele no domingo não poderia ser diferente, mais ao mesmo tempo em que eu dei o fora nele, tive um pouco de dó também.
-Claro Marcos. – não fiz questão de devolver o desprezo- Porque você não conseguiu fazer?
-Não foi isso que aconteceu, é que a minha irmã mais nova, pegou a página que eu tinha feito o exercício e rasgou em cinco partes e não deu tempo de fazer de novo, porque já tava na hora de eu vir pra cá. – nesse momento ele olhava profundamente nos meus olhos- Mais será que a D. Mariza vai perceber que eu não fiz, não vai dar tempo de fazer aqui - enquanto ele terminava de falar o Sr. Paulo entrou na sala, pedindo para todos virarem para frente e pegarem o livro- Bom, então deixa né? Eu falo para a D. Mariza do ocorrido.
-Maria Eduarda, Marcos e Cristiane, eu já pedir para virarem para frente, por favor, compreendem.
-Claro Sr.Paulo.
Enquanto o Sr.Paulo falava sobre Romeu e Julieta, eu estava pensando no que eu ia fazer nessas férias, já que meus pais não iam viajar por causa da empresa que estava vendendo bastante produtos e eles não estavam pensando abandonar ela, como eles dizem. Mas de repente, fui interrompida dos meus pensamentos, por alguém me cochichar no meu ouvido.
-Duda, você viu a novela de ontem? – claro que era a Cris falando isso, ela não perdia um capítulo da nova novela- Aquele ator, novo que acabou de entrar na novela é simplesmente lindo, então você viu?
-Não deu para mim ver, eu tava lendo O Morro dos Ventos Uivantes- olhei para ela, com o sentindo de culpa.
-Ah não Duda, esse livro é mais velho que a minha avó e você já leu ele muitas vezes, precisa parar de ler e começar a assistir tv
O ator é jovem, loiro, com olhos azuis, não tenho mais nada para falar, ele é simplesmente perfeito parece um deus-grego.
-Ah que legal. Hoje eu acabo de ler meu livro e vejo esse seu “deus-grego”-falei com ironia.
-Muito engraçadinha você.
Mas eu parei de falar e comecei a prestar atenção pela primeira vez na aula do Sr. Paulo, como eu já tinha lido Romeu e Julieta muitas vezes e os comentários do Sr. Paulo, não me interessavam mais.
De repente, o sinal tocou e eu tinha percebido como a aula tinha passado rápido demais. Não foi só a aula, mais a manhã inteira tinha passado rápido. Estava saindo da escola, quando a Cris me parou, ela estava toda séria e morrendo de raiva.
-Duda...o Thiago acabou de me dizer que estava me traindo esse tempo todo que nós estávamos juntos, não acredito nisso- quando percebi ela estava chorando e molhando todos os seus cadernos e presente que ela tinha ganhado dos amigos, inclusive o meu- aquele menino me paga por tudo que ele fez comigo, nunca mais me faça ver ele de novo, pode ser? Mais então eu estava pensando de ir fazer compras lá em Ribeirão, que tal? Você poderia ir dirigindo, já que você já é bastante acostumada, pelo menos, mais que eu.- ela agora tinha acabado de limpar as lágrimas e estava com o sorriso mais forçado que ela podia fazer- Vai diz que sim, não estou com a mínima vontade de ficar aqui, nessa cidade pacata.
-Vou pensar, mais que dia você estava pensando em ir, é que dependendo do dia, eu quero ir visitar a minha avó, lembra que ela mora em Campinas? Então to pensando em ir lá...mas fora isso acho que levo você lá sim.
-Ai, isso era tudo que eu precisava ouvir hoje, então ta vou ver com a minha mãe que dia eu posso ir e depois te ligo. Nossa olha a hora, se eu chegar atrasada mais uma vez em casa, minha mãe me mata mesmo. Beijo amiga, depois te ligo.
-Vai lá, não quero ir no enterro de nenhuma amiga, tá? Beijo...
Enquanto ela ia pro carro dela, eu tinha percebido que estava parada no meio do estacionamento do colégio. Só que eu percebi também que não estava nem aí, eu estava preocupada era que eu nunca iria arrumar um namorado adequado a minha postura? Ninguém dessa cidade era adequado e eu tinha desistido de procurar também, por isso, não saia mais de casa, era muito chato, para encontrar meus amigos, eu mesma iria a casa deles ou telefonava, não precisava sair para encontrar eles. Então, desisti de pensa nesse assunto, e fui para o meu Gol, que meu pai tinha emprestado hoje de manhã, abri a porta do carro com o maior desânimo, entrei lá dentro e percebi que tinha um papel no vidro, sai do carro e peguei o papel que estava escrito:
“Não percam a inauguração da nova loja da cidade a Projeto e Estilo, todos os tipos de móveis e projetos para a sua casa. Aproveitem a promoção de inauguração e junto com as promoções de fim de ano. Nessa segunda, a partir das 08h00min.”
Não tinha ficado sabendo que ia abrir uma loja nova na cidade, então peguei o carro e fui para a empresa do meu pai, já que eu sabia que eles não tinham ido para casa almoçar, tinham almoçado lá mesmo. Chegando lá, todos estranharam a minha visita, principalmente meu pai, já que era a segunda vez que eu tinha ido lá.
-Filha, que surpresa! – a alegria tomou conta do seu rosto- Não esperava uma visita sua hoje aqui, pensei que tinha ido para casa almoçar, porque veio para cá?
-Ai, pai desculpa, atrapalhar seu trabalho pra minha visitinha sem hora marcada- agora sim, eu me sentia totalmente culpada pelo que eu tinha feito, não era nada urgente e estava atrapalhando a vida de todos aqui na empresa- Deixa, pai, falo com você em casa, já estou indo.
-Não, Duda, pode me falar, vamos pra minha sala, você nem a conhece, eu mudei de novo. – ele sempre mudava a sala dele, todo mês, ele chegava em casa me contando que tinha mudado a sala, era interessante saber que ele gostava de fazer isso.
Enquanto eu o seguia, eu estava prestando bastante atenção ao redor, nunca tinha reparado como as pessoas trabalhavam sorrindo, todos conversavam, a alegria tomava conta de todos os lugares por onde nós passávamos isso me deixou constrangida. Eu nunca tinha imaginado o que era felicidade e eu estava descobrindo ela hoje, em volta das pessoas, nunca tinha visto aqueles rostos, mas para mim isso não me importava, porque o que eu queria era saber como sorrir daquela maneira, eu também gostaria de ter aquela felicidade todos os dias das minhas férias, porque tudo aquilo me fazia sentir mais perto da humanidade, mais perto dos seres humanos.
-Então, filha você queria falar comigo?
Acenti com a cabeça.
-Bom, então entra ai, essa é a minha sala.- o sorriso tomou conta do seu rosto. – E aí, gostou?
É, a sala dele era simplesmente incrível, lá dentro tinha uma mesa, cheia de papel, a cadeira que ele não largava, na frente da mesa, duas cadeiras com almofadas, e um sofá com uma televisão na parede, claro, ele não perderia uma parte de seus jogos preferidos.
-Vamos, filha, o que você queria me falar mesmo?- nesse exato momento ele estava bravo de novo e totalmente sério.
-Bom, pai, hoje quando eu estava entrando no carro, vi esse papel aqui. Falando dessa nova loja que vai abrir, e como você sabe sobre as minhas curiosidades, queria saber quem vai abrir essa loja, porque não tem ninguém com dinheiro total para fazer uma loja desse tamanho.
-Ah, eu devia ter imaginado que você tinha vindo aqui para perguntar isso- ele não estava mais bravo, estava sorrindo. - Bom, respondendo a sua pergunta, eles são novos aqui na cidade e possuem redes dessas lojas, pode perceber que a propaganda passa na televisão sobre essas lojas. Eles queriam morar numa cidade pequena então resolveram morar aqui, já que conheciam muito bem a cidade, porque o dono dela já havia morado aqui quando era criança e sempre gostou só que os pais mudaram para São Paulo e nunca mais vieram aqui. Mas agora eles estão de volta, e abriram uma loja e estão pensando em fazer dela a base de todas as lojas. Mas, ainda eles não mudaram e quando mudarem eu prometo que apresento a família inteira pra você. Concerteza eles estarão mudando nesse final de semana.
-Muito obrigada pai, pelas informações, mas agora tenho que ir para casa, não quero mais interromper o seu trabalho. - Agora eu me sentia aliviada, por saber de tudo e ansiosa também para conhecer essa nova família, lógico, eu adorava conhecer pessoas novas.
Cheguei em casa, tinha que arrumar meu almoço ainda, mas não estava nem um pouco animada para fazer isso. Deitei no sofá e liguei a televisão e a surpresa aconteceu, estava passando Romeu e Julieta. Como eu não tinha reparado nisso ainda, claro, primeira vez que eu estava assistindo algum programa nessa televisão.
Estava totalmente entretida com o filme, que me assustei com a campainha tocando. Pulei do sofá e fui abrir a porta, nunca ninguém tocava essa campainha nesse horário, quem seria? Ainda mais num dia de chuva, a cidade inteira estaria ou no trabalho ou em casa.
Quando abri a porta, um homem alto, com seus 1,80m, pele muito branca, seus olhos azuis, cabelo desarrumado, calça jeans e blusa listrada.
-Posso ajudar? – a cara dele era de alegria total, o que ele estava achando de legal aqui? Uma menina frustrada que só ficava dentro de casa, e que acabara de chegar em casa e nem tinha almoçado ainda.
-É que eu sou novo nessa cidade, a minha casa é essa aqui do lado, eu e minha família acabamos de mudar, sabe como é? Meu pai é dono daquela nova loja que vai abrir aqui Projeto e Estilo, ouviu falar?- eu estava paralisada em frente a um cara enorme e que ainda era dono da maior rede de lojas que eu já tinha ouvido falar em toda a minha vida, e pra piorar a situação ele vai ser meu vizinho- Bom, está tudo bem aí com você, parece que não está respirando direito, está passando mal? Posso ajudar em alguma coisa?
Com esse tanto de pergunta não tinha como não voltar para a realidade.
-Não está tudo bem, só senti um pouco de falta de ar. – Ta um pouco não foi, eu realmente tinha parado de respirar, mas agora eu estava normal como sempre.- Bom, em que eu posso ajudar?
Ele agora tinha virado o rosto para a sua casa e deveria estar pensando no que responder, e claramente a alegria acabara de tomar conta de seus olhos.
-Pra começar gostaria de saber o seu nome- Claro, como sempre eu tinha esquecido de me apresentar- O meu é Caio Pietro.
-Ah, o meu é Maria Eduarda Pettler, mas pode me chamar só de Duda, como todos aqui, menos minha mãe- Ah, eu sempre falava demais quando ficava nervosa.
-Ué, porque ela não te chama de Duda, é tão bonito- os olhos dele brilhavam- Ah, já ia me esquecendo, meu pai e seu pai, ficaram conversando por 1 hora e já são amigos, incrível, mas eles resolveram de fazer uma festa com a nossa chegada- agora tudo fazia sentido, por isso meu pai falou que eu ia conhecer todos, uma festa seria ideal, cara do meu pai mesmo.
-Meu pai é dono de virar amigo de todo mundo, por isso resolveu vir para uma cidade pequena, para conhecer todos. – nesse exato momento estava passando uma família na rua que achou totalmente esquisito eu na rua- Mais vai ser legal ir numa festa do meu pai, já que é férias não vai ter nada para fazer. – nem o conhecia e já estava contando tudo. – Agora que percebi, tenho que almoçar. – é lógico que eu não queria ir almoçar mas o modo como aquela família tinha olhado pra mim não era nada normal.
-Mas, por quê? Almoçar assim de repente. Ah, já sei, foi por causa daquelas pessoas, né? Por que elas olharam daquele modo para você?- agora ele estava intrigado com aquelas pessoas.
-É que você não entende, eu não sou acostumada a receber ninguém, eu só fico dentro de casa o dia inteiro, só saio para ir à escola, eu sou totalmente caseira, se você me entende. - é agora eu estava contando tudo da minha vida a um desconhecido.
-Acho que dá para entender. Mas eu vou ter que ir, ajudar meu pai, arrumar a loja para a inauguração da nossa loja.
-Claro. – quando o respondi já estava atravessando a rua e virando para dar um tchauzinho, normalmente eu não retribuo, mas alguma coisa me incomodou e dei um sorriso.
Fechei a porta e subi as escadas como um fuso e percebi que a televisão estava passando Romeu e Julieta ainda, eu tinha esquecido que estava assistindo novamente esse filme. Precisava de novos filmes ou talvez sair de casa, ficar aqui dentro estava me incomodando, então resolvi ligar para a Cris. Ela atendeu o mais rápido possível, eu só tinha chamando uma vez.
-Amiga. O que aconteceu? Você nunca me ligou. – a voz dela era de preocupação, ela não precisava disso, eu sabia.
-Calma Cris. Não aconteceu nada, eu só não quero ficar dentro de casa, ta muito chato por aqui, ta passando na televisão Romeu e Julieta de novo e não to com vontade de acabar de ler o meu livro. Cansei disso tudo. – nessa hora eu estava achando que quem estava falando isso não era eu, de jeito nenhum, eu nunca ia falar isso para a Cris. É concerteza não era eu, talvez alguma coisa de mim não estivéssemos mais suportando essa vida pacata e chata. – Você acha que dá para ir para Ribeirão agora? To meio que precisando.
-Olha, eu não tenho nada em mente ainda, mas concerteza, a gente vai sim, eu só vou precisar passar lá no trabalho da minha mãe, só para avisar, sabe como são as mães.- é concerteza, a mãe dela era incrível, a menina tinha 18 anos e ela ainda pedia para mãe se podia ir na vizinha, mãe-coruja é sempre mãe-coruja.- Tudo bem, para você?
-Tudo bem sim. Então vamos passar lá no emprego da sua mãe e depois passamos lá na empresa do meu pai. – Eu também teria que avisar meus pais onde eu tinha ido, afinal não era todo dia que eu resolvia sair de casa assim. – Eu também tenho que avisar eles.
Eu só precisava de dinheiro, mas não tinha o suficiente para fazer compras em shopping, mas, não como a primeira vez para pedir para o meu pai me dar um pouco de dinheiro para gastar em shoppings e roupas, a melhor coisa de qualquer pessoa, ou melhor, de qualquer mulher.
Mesmo estando concentrada na minha pequena viagem até Ribeirão Preto, não conseguia tirar da cabeça a festa que meu pai daria naquele final de semana, e ainda, ele não tinha contado nada para mim sobre isso, eu tinha ficado sabendo pela boca do povo. Meu pai nunca foi de fazer isso e fez... Uma coisa imperdoável.
Mas, eu também precisava esquecer isso e ligar para o meu pai pedindo dinheiro. Fui à minha sacada, que ficava para a rua e de frente para a minha casa tinha a casa da nova família da minha cidade onde o Caio morava, e como eu não queria lembrar, lembrei que eu tinha conversado com ele hoje mais cedo, isso me perturbou um pouco, mas me lembrei que eu estava ligando para meu pai e me concentrei para não deixar meu pai falando sozinho.
-O que foi filha? Aconteceu alguma coisa? – ele já estava preocupado, porque era a primeira vez que eu ligava para o seu trabalho- vai me responde logo, não, eu estou indo aí agora.
É, ele estava preocupado até demais comigo, não precisava disso tudo, porque não estava acontecendo nada demais, eu só precisava de dinheiro para ir no shopping.
-Calma, pai. Não aconteceu nada eu só estou ligando para pedir um negócio- bom, negócio não era, o que eu queria mesmo era dinheiro.- Ta, deixa eu falar logo, antes que eu me atrase, eu e a Cris resolvemos ir para Ribeirão no shopping, distrair um pouco e comemorar as férias, só que tem um pequeno problema, eu estava vendo as minhas reservas e só tem um pouco, só dá para pagar o pedágio e mais nada- agora sim, eu estava falando demais e acabando com os meus créditos que já estavam no fim- então eu queria que você me desse dinheiro para comprar roupas para mim? Você me dá?
Meu pai não me deixou nem terminar para responder a minha pergunta.
-Claro Duda. Eu até pensei que você nunca ia me pedir. Agora sim você está se comportando como uma filha de um empresário, gastadeira. – não gostei como ele tinha me apelidado- mas também não quero que isso se torne um hábito, ta?
- Pai, gastadeira? Da onde você tirou isso? Nossa, é a primeira vez que eu peço dinheiro e você já vai me falando isso. – agora sim, eu estava totalmente decepcionada com o meu pai- E não se preocupe porque isso não vai se tornar um hábito, é só hoje que vou pedir e nunca mais, prometo.
Ele parou para pensar um pouco e deu para perceber que ele estava se sentindo culpado pelas palavras que tinha dito antes.
-Duda, me desculpe. Eu só estava brincando com você, eu quero que você sempre peça para mim tudo o que precisar e além disso os créditos do seu celular estão acabando, como você não tem dinheiro vai ter que pedir de novo para mim e isso é bom- agora ele estava pensando antes de falar qualquer coisa para mim- sempre que precisar pode pedir que eu vou ter a maior satisfação de te dar, nunca vou negar em nada. – sim, ele estava sendo sincero.
- Não pai, tudo bem, é que não gostei de como você me chamou, só isso. E como você sabe que os créditos do meu celular estão acabando?- é claro que ele tinha usado, mas mesmo assim eu queria saber, queria o ouvir falando. – Mas, então eu vou aí pegar o dinheiro na empresa ta?
Ele pensou por um segundo antes de responder as duas perguntas que eu tinha feito de uma só vez.
-É que tive que pegar seu celular emprestado e gastei os seus créditos e só deixei um resto, que deve estar acabando daqui a pouco. Acho melhor você desligar- é ele tinha razão, já estava no final e também estava apitando a minha bateria que estava acabando. Que ótimo, agora eu teria que pegar outro celular com outro chip e ninguém saberia esse numero, tudo está ficando complicado- Pode vir aqui na empresa, vou esperar. Tchau.
Ele nem me deixou responder e já tinha desligado. Mas eu não podia me preocupar com isso, tinha que colocar meu celular para carregar o máximo possível de tempo, enquanto eu arrumo as coisas. Quando eu acabava de sair da sacada, escuto alguém me gritando.
- Duda, Duda, Dudaaa. Espere, preciso te perguntar uma coisa.
Só podia ser o Caio, ele é o único que me gritaria no meio da rua, porque era o único que tinha coragem para fazer isso.
-Menino, ta ficando doido? Para que sair no meio da rua me gritando- é ele não precisava disso- mais fala o que você quer.
Ele parou e ficou pensando no que eu tinha dito surpreso com a minha resposta. Pensando bem, eu tinha exagerado na minha resposta.
- Eu ouvi você falando com o seu pai, vai mesmo pra Ribeirão hoje? – os olhos dele brilhavam, enquanto falava isso me deixava maravilhada com a beleza deles.
-É eu vou sim, por quê?
- É que eu não conheço essa cidade e parece que tem shopping, eu amo shopping, e tenho que comprar umas coisas que aqui não tem você vai sozinho?
Ele já estava ficando oferecido demais, não estava gostando disso.
- Não vou sozinha não, vou com uma amiga minha. A gente vai fazer umas compras, nada demais. – é claro, eu estava tentando fazer ele não ir.
-Ah, legal. Mas só uma pergunta?
Que estranho, pergunta? Sobre o que?
- Pode falar. – eu estava achando tudo isso muito esquisito.
- Lá faz muito, muito, muito sol?
Nossa,mas isso não é pergunta que se faça. Mas que é esquisito isso é.
-Claro que faz sol, isso é o que mais faz lá.
Ele pensou antes de responder, enfim disse.
-Ah não, acho melhor não. Lembrei tenho que arrumar umas coisas lá na loja.
Ta bom, isso ta ficando muito esquisito, de repente assim, ele tinha acabado de decidir que iria e agora não iria mais.
-Então, ta. Quando quiser ir e eu for só avisar!- é eu tinha que ser gentil e educada, afinal agora nossos pais era amigos e não se desgrudavam, isso dava para saber.- Bom, agora tenho que ir arrumar as minhas coisas. Tchau...
Não esperei ele me responder de volta e entrei no meu quarto pegando a minha bolsa, com carteira e tirando meu celular da tomada. Tinha que pegar a Cris na casa dela, concerteza ela já estaria na porta me esperando. Entrei na garagem, e peguei o Gol do meu pai, afinal eu poderia pegar, era o último dia de aula ainda.
Eu estava chegando à casa da Cris, e como eu tinha dito, ela já estava me esperando, quando parei o carro ela abriu a porta antes que eu desligasse o motor.
-Desculpe, a demora. Um vizinho novo me parou para perguntar se eu ia para Ribeirão Preto, acho que ele queria ir também, mas depois me perguntou se lá fazia muito calor ai respondi que sim, então ele resolveu que não iria. – é, tudo muito esquisito mesmo, principalmente esse menino.
-Ah, não tudo bem, não faz muito tempo que estou aqui, acabei de chegar. Nossa, mas que menino esquisito, vizinho? Não sabia que você tinha vizinho. – agora ela estava tensa com a história do Caio.- Porque você não me conta nada mais?
Novamente ela continuava tensa, e esquisita, eu não estava entendendo essa preocupação toda dela.
-É, um vizinho novo. Ele se chama Caio, sabe aquela nova loja que vai abrir “Projeto e Estilo”, então o pai dele é o dono. – agora só faltava ela não saber que ia abrir uma nova loja aqui na cidade, como sempre ocorria. - e ele está morando em frente a minha casa. A construção é nova, você não vai se lembrar dela, faz tempo que você não vai lá.
-Concordo, mas então a gente vai ou vamos ficar aqui parada olhando uma para a cara da outra. – agora ela estava com um sorriso esplendido no rosto, nunca tinha percebido como o sorriso dela era bonito e contagiante, logo eu estava sorrindo também. – ah, a gente precisa passar para avisar a minha mãe, não esquece.
Como ela não se esquecia disso, ela já havia me falado antes no telefone.
-Claro, a gente vai passar lá sim e eu também vou ter que passar na empresa do meu pai, para pegar dinheiro, minhas economias esgotaram. – abri um enorme sorriso, tentando alegrar o meu dia- e também avisar ele direitinho, só avisei por telefone mas não expliquei tudo o que devia- agora sim, eu não estava entendendo o que eu estava falando, eu já havia falado tudo para o meu pai, o que mais eu teria que falar para ele?- então vamos, senão vamos chegar aqui muito tarde.
Enquanto nós entravamos no carro, eu imaginava o que eu não tinha falado para o meu pai. Claro, ele não tinha me contado da festa que ele ia fazer nem da nova amizade que ele tinha com a família Pietro, era isso o que eu tinha que falar com ele. Enquanto eu pensava a Cris mudava a estação da rádio para a Jovem Pan, eu não gostava de coisa muito agitada, mas não ia brigar com a minha amiga por causa da estação de radio que ela colocara.
Chegamos rápido a Ribeirão nem eu tinha percebido que já tínhamos chegado, fomos ao centro da cidade, muitos carros, muitas buzinas, muitos semáforos- eu estava horrorizada com tanto trânsito, nem Campinas estava daquele jeito e Ribeirão já estava, um absurdo ocorrendo atrás do outro.
Para chegar ao shopping até que foi rápido, a Cris falava, mas eu dava de ombros, não queria a ouvir falar do Victor, estava totalmente cansada. Entramos no shopping pela Riachuelo, péssima loja para entrar, gastamos demais, foram sapatos, blusas, vestidos coloridos- cada um mais lindo que o outro- vestidos normais, shorts brancos e jeans, ah e muitas calças jeans.
Eu estava totalmente distraída quando a Cris me puxou pro lado olhou bem no meu olho e falou profundamente.
- Nada mais importa o que realmente ta importando hoje é a nossa amizade- ela estava cheia de lágrimas nos olhos, mas eu não estava entendendo mais nada- promete isso que eu falei?
A frase eu tinha achado totalmente lida, iria até colocar na frase do meu MSN, mas o que ela estava dizendo não fazia mais nenhum sentido.
-Nossa realmente você falou bonito agora, nunca tinha reparado que você criava frases desse nível, mas prometer eu prometo sim, mas sinceramente eu não estou entendendo nada e você poderia me explicar? – eu estava horrorizada com a situação desde aquela hora da loja ela estava esquisita, não falava mais e andava calada olhando para o chão fixamente, ela nunca tinha feito isso comigo, então eu estava achando mesmo esquisito isso tudo.
-Eu explico sim, é o seguinte, se acontecer alguma coisa comigo ou algo desse jeito quero que você saiba que a sua amizade é tudo para mim nessas férias ou em qualquer tempo, então eu queria agradecer- era lógico que estava acontecendo alguma coisa, mas ela não queria me contar sobre isso- Obrigado por tudo que você fez pra mim e que ainda vai fazer- bom, se ela estava falando daquele jeito então, eu ainda iria fazer alguma coisa por ela. – mas, então vamos esquecer essa minha faze de sentimentalismo e vamos às compras.
Fomos para a Saraiva, adoro ir lá, gosto muito de ler e gostaria de ver as últimas novidades do mercado, para ver se interessaria, vi muitos livros da Stephanie Mayer, chamado “A hospedeira”, adorei é ficção cientifica, e também já tinha lido os outros livros da Stephanie, a coleção Crepúsculo que eu tinha em casa e já tinha lido duas vezes os quatro livros, eu amava muito e todo lançamento dos filmes eu ia, lógico, a Cris ia comigo ela também amava os livros. Éramos duas fãs malucas, as mais malucas por esses livros em toda a cidade, porque lá ninguém curtia esse tipo de série, que continha vampiros, lobisomens e romance. Sabíamos que éramos as mais doidas porque Itamogi era muito pequena e todo mundo sabia o gosto de todo mundo.
-Cris, que tal? É da Stephanie, só que é ficção cientifica com romance, ai vou levar, to sem nada para ler e ela lançou não faz muita tempo. – concerteza, eu estava amando, fazer compras, eu nunca tinha feito isso com tanta felicidade, vou começar a me acostumar.
Ela estava totalmente distraída, e deu de ombros o que eu acabara de falar, também não liguei muito, eu já tinha certeza que iria levar.
Cheguei para pagar meu livro, na hora que a atendente viu, ela começou a rir do nada, não achei estranho, estava acostumada com esse tipo de coisa, não sei por quê.
Depois de gastarmos todos os nossos dinheiros, fomos embora, a viagem de volta foi mais demorada do que eu pensava, fiquei dirigindo como se eu nunca chegasse.
Levei a Cris até a casa dela e quando cheguei em casa e o Caio estava na porta da casa dele, mas não quis cumprimentá-lo e entrei e coloque o carro na garagem. Chegando a casa minha mãe estava com cara emburrada.
-O que aconteceu, Dona Anna. – adorava chamar a minha mãe pelo próprio nome dela. – pode me contar, vamos pro meu quarto- minha mãe me contava tudo e eu contava tudo pra ela, então a gente combina uma com a outra.
Ela deu de ombros, e subiu direto pro meu quarto, eu fui logo atrás sem falar nada. Cheguei ao meu quarto e fechei a porta, para meu pai não ouvir a nossa conversa, porque a minha mãe não gostava dele ficar sabendo de suas preocupações
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Há 3 anos
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